23 de março de 2014

BRASIL: QUAL É A TUA COR?

Vinícius Romão de Souza, 26 anos, NEGRO, é ator, psicólogo e vendedor
As imagens não mentem jamais! Aliás, valem mais do que um milhão de palavras! E quando elas revelam a triste realidade de um país, negro por excelência, que parece ter abolido a escravidão, há 126 anos, e que mantêm grilhões invisíveis, mordazes e vivos nas consciências de muitos homens e mulheres, que afirmam, com veemência, serem brasileiros legítimos, uma indagação emerge das sombras nefastas de um passado, que deveria figurar, apenas, longínqua e melancolicamente nas páginas da História: em que ano estão as pessoas que, deliberadamente, em pleno século XXI, com a gana e a sanha, próprias de uma bestialidade irracional e abominável, protagonizam cenas hediondas da discriminação racial? Esta indagação oculta a verdadeira face de uma nação, que, sob véus incontáveis de uma sutileza cruel e sanguinária, violenta suas crianças, exilam seus idosos, execram homossexuais, extermina seus compatriotas, às vezes queimados vivos nas ruas, exterminam índios, fazem justiça com as próprias mãos; e que, entre protestos, black blocks e rolezinhos relâmpagos, ainda encontra vagos imensos para praticar todas as formas de preconceito possíveis, atentando frontalmente a dignidade e a honra do Outro. Uma delas, sabidamente por todos, é o velho e indigesto preconceito racial, o assunto da presente postagem. 

Tássia dos Anjos, 22 anos, NEGRA, é manicure
A  ignorância pede passagem para instalar-se no sofá da sala dos milhões de brasileiros, alienados, que insistem em virar as costas para a escola, para os livros, para o conhecimento; para a Educação: única forma plausível e concreta para libertar almas miseráveis da torpeza, que, entranhada no fôlego de uma massa, cada vez mais imbecilizada, impede que uma informação invada seus miolos e que, amolecidos por falta de juízo e bom senso, preferem afundar na perdição de conceitos e visões equivocadas ao invés de exercitarem o nobre exercício da intelecção a serviço da igualdade, do respeito às diferenças, e, no mínimo, da tolerância, o que já seria um cenário razoável para uma convivência salutar em uma nação genuinamente multirracial. Qual seja: para os imprudentes, que, na verdade, são os estúpidos de plantão, o Brasil é o segundo maior país negro no planeta Terra. É mister que se repita a verdade como forma pedagógica, de ensino e para a fixação efetiva deste saber: o Brasil, depois da Nigéria, é o maior país negro no planeta Terra. 

Claudineia Gomes, 33 anos, NEGRA, é cobradora de ônibus
O ato de discriminar é o exercício visceral da violência. Violência no seu grau ultimado de inconsequência, bestialidade, irracionalidade; dentre outras animalias; bizarrices e aberrações, que brotam da alma daquele que, arrogantemente, nas páginas da História, declara ser dotado de humanidade: o Homem. Condição miserável; instância patética. Ser humano que traficou negros entre o Brasil e África, exterminando vidas como peso morto nos navios maculados de sangue e desgraça e que, apinhados, no início da rota, em um oceano atlanticamente cúmplice dos atos bárbaros da perversidade e da crueldade dos colonizadores portugueses, muitos não sobreviviam e somente os mais fortes conseguiam vencer a batalha contra a morte, já decretada por seus algozes; ser humano que aniquilou mais de seis milhões de judeus, em uma das duas injustificáveis guerras mundiais, e que, lamentavelmente, continua vivo e fantasmagórico em mentes desviadas, que insistem em perpetuar o nazismo; ser humano que, em nome de Deus, promove fanaticamente verdadeiras pelejas ditas santas e, acima do Bem e do Mal, leva a cabo o massacre de irmãos; ser humano que, apregoando a lei do terror, tiranicamente assassina compatriotas em paredões que, ruborizados com sangue de inocentes, tingem a ideologia dos loucos. A lista é longa o suficiente para atestar que o Homem, corrompido por seus instintos mais selvagens e alimentado por sua própria vilania, perdeu-se em sua mesquinhez e maldade e conheceu a desumanidade.

Marcos Arouca da Silva, 27 anos, NEGRO,  é futebolista brasileiro
No trajeto sinuoso da civilização, exemplos repugnantes não faltam; e para o arrepio dos que têm bom senso e são bem - aventurados, o preconceito e a discriminação, em todos os níveis, andam, de mãos dadas e formam cadeias intermináveis no planeta das desigualdades, desde os tempos mais arcaicos. A violação dos direitos, de toda ordem, parece, então, ser algo que remonta à origem do ser que se distingue das demais espécies, encontradas na natureza, por ser o único que pratica conscientemente a atividade do pensamento; por transformar o incompreensível e o instintivo em intelectual e inteligível. Indaga-se, portanto: discriminar o Outro ou produzir e perpetuar o preconceito, que desgraça sociedades e gerações inteiras, é fruto de uma inteligência saudável e edificante? Qual é o objetivo final do preconceito e da discriminação? Para que servem atitudes segregadoras, que apartam mortais de outros em função da cor da pele ou da textura de cabelo? Qual é o sentido da vida para aqueles que praticam tais iniquidades? Reflexões que amordaçam os sábios não porque a perplexidade ou o estarrecimento apoderou-se de suas consciências, mas porque o silêncio é irmão, nestas horas, de um profundo pesar; de uma melancolia imensurável, que merece recolhimento e oração. Pobres as almas que praticam tais atos por causa da cor do Outro, pois essas perambulam penadas por vagas literalmente enegrecidas! Fôlegos inferiores, todos carentes de Luz!

Márcio Chagas da Silva, 37 anos, NEGRO, é árbitro de futebol
A escalada da violência, em um país que mais se assemelha a uma nau desgovernada, demonstra, por um lado, sem quaisquer melindres ou pudores, a falta de políticas públicas adequadas e que enfrentem, com a devida austeridade, aqueles que não fazem jus ao direito de se declararem cidadãos brasileiros; e, por outro lado, o desrespeito total com uma nação que já ultrapassou a casa dos 200 milhões; todos inequivocamente mestiços, frutos de uma diversidade étnica e singular na terra dos contrastes. O descaso com a Educação - pilar fundamental para que uma nação cresça soberanamente e senha de acesso para ingressar no seleto grupo de países ditos avançados - é flagrante, na sexta economia do mundo; e, através das práticas inaceitáveis de preconceito, de toda ordem, da discriminação e de todos os tipos de segregação, a ferida é exposta impiedosamente e o gigante, que outrora estava adormecido, agora padece de um entorpecimento letal, pois a Democracia, que deveria velar pela Constituição e pelos direitos humanos, ultraja a própria Lei com os atos hediondos de seres antissociais e ferem a humanidade daqueles que, injustamente, sofrem com a barbárie, a perseguição; a ofensa à honra, à dignidade, e com a intimidação crescente e destemida dos insanos, que se julgam superiores na terra onde todos são todos são iguais; todos são mortais.

Joaquim Benedito Barbosa Gomes, 59 anos,  NEGRO, é o atual presidente do Supremo Tribunal Federal
Se vergonha tivesse cor, definitivamente, essa seria a cor do Brasil; aliás, propositalmente, a indagação que intitula a presente postagem, pois um país de contrastes e fossos profundos, de abismos e precipícios; divisas das desigualdades, que, hipocritamente apregoa pacificamente a convivência de raças, cor e credo, algo estampado e sem qualquer margem para dubiedades na Constituição, e que, por sua vez, é considerada como uma das mais completas do planeta, principalmente por lançar um olhar vertical sobre as grandes questões sociais, lamentavelmente retira da face despótica a grande máscara em um baile de horrores. A letra dourada no papel consagra a lei paradisíaca em uma nação que se proclama justa com os braços abertos para receber, acolher e tratar todos os cidadãos e aqueles que escolheram o país continente como a segunda casa (claro, sem glória!), mas que, na prática, aplaude a venda que cega a justiça para promover e perpetuar as atrocidades que atingem a todos os brasileiros indistintamente. Violência que, intrepidamente, desafia não apenas os homens e mulheres, mas as instituições, que resistem a todo custo, para que a verdadeira democracia sobreviva em uma terra que beira ao anarquismo. O Brasil já é um país dos sem - vergonha, dos sem - teto, dos sem - camisa (ou os descamisados!) dos sem - terra, e, agora, dos sem - lei! Do cidadão mais simples, que tem sobre si o peso natural do anonimato ao mais renomado nome a representar a Lei no país, o presidente do Supremo Tribunal Federal, um negro, o Excelentíssimo Sr. Joaquim Barbosa, a impunidade, movida pela violência aos direitos individuais de cada um, parece, dia após dia, triunfar sobre os valores da honradez, do respeito, da solidariedade, da urbanidade, da igualdade e, por fim, da civilidade. O poeta já perguntou em tempos recentes: que país é este?


A verdadeira desgraça não recai sobre aquele que sofre a discriminação, mas, em um efeito bumerangue irreversível, retorna para o seu o ponto de origem.


Palavras FINAS para FATIAREM a legião de preconceituosos, espalhados pelo mundo por falta de amor próprio, por que discriminar o Outro é não amar-se a si mesmo! 


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